segunda-feira, abril 06, 2020

Still we Know Now...

... You'll never see smoke without fire...
And everyone you see has a heart desire!


As minhas locks têm sido de uma aprendizagem muito interessante e poderosa. Foram elas que chamaram RastafarI até mim porque, ainda sem sequer saber, eu vibrava uma energia que me ligava um movimento de reencontro comigo mesmo.
Com elas aprendi que muitas vezes o caminho mais fácil é difícil, e por vezes é pelo caminho mais difícil que facilmente se encontra aquilo que se procura.

No meu caso, eu procurava uma identidade, algo que me despertasse de uma letargia de décadas a vestir uma pele esbranquiçada que não era a minha.
Paradoxalmente afimei à minha volta que iria deixar crescer o cabelo, e no dia seguinte eu...  rapei todo o cabelo!
Pois... é que para mim eu queria eliminar os vestigios de quem tinha sido para recomeçar de novo a aventura de existir... 
... E sem saber estava também replicar um dos rituais de iniciação do Candomblé... em que a cabeça do Abian é raspada para renascer como Yawô. Mas disso falaremos noutro post.

Com o crescimento das minhas locks fui aprendendo a discriminação dentro da minha própria família, e ao mesmo tempo a força que tinha transcender uma visão apenas estética de mim próprio, para uma visão mais existencial... ter direito a ser quem eu escolher... Ainda que essa escolha tivesse consequências para arcar.

Aprendi que ser outsider, quando sempre viveste dentro do mainstream, não é fácil, mas faz-te ver o outro lado da vida, o lado de ser segregado apenas pelo aspecto físico, o "profiling" da polícia, a associação imediata ao tráfico e consumo de drogas... "isso é cabelo de bandido diziam-me!"

No meio disso tudo o cabelo foi ficando e crescendo. Odiado por muitos, gozado por outros tantos, e visto como uma excentricidade por todos, eu ia assim descobrindo a beleza de me desligar de um sistema de crenças que me tinha oprimido durante tanto tempo.

Descobri a Capoeira e ainda mais livre me senti, e depois... sim... só depois as locks me levaram a RastafarI. E foi num comboio, numa conversa que mudou a minha vida com umas palavras que me foram proferidas por um Rasta, enquanto eu lhe dizia que eu próprio não era RastafarI, e apenas tinha escolhido as locks porque me sentia bem com elas.

Ele respondeu

"Tu és Rasta, porque Rasta não está na cabeça... Está no coração!"



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